As fotos feitas por Heinrich Hoffmann, em 1925, mostram como
Adolf Hitler, que acabava de ser libertado da prisão de Landsberg, na Baviera,
no Sul da Alemanha, aprendeu a conquistar as massas com seus discursos
enfáticos, repletos de ódio, e acompanhados de um gestual muito característico.
Nas fotos, Hitler, na época com 36 anos, movimenta os braços, em uma atitude
teatral – estilo que se tornaria a marca registrada dos seus discursos –
ensaiada meticulosamente em frente ao espelho.
Aparentemente, Hitler não gostou do que viu. Tanto que pediu
a Hoffmann que destruísse os negativos. O fotógrafo, que teve um papel decisivo
na ascensão do Führer, não cumpriu a ordem, deixando assim para a posteridade
fotos que são um documento sobre como tudo começou. Depois do fim da guerra, as
imagens chegaram a ser publicadas num livro de memórias de Hoffmann de pouca
circulação, mas, posteriormente, foram dispersas em várias coleções. Somente
agora elas voltaram a ser reunidas e divulgadas.
Nascido em Fürth, perto de Nuremberg, em 1885, Hoffmann
abriu em 1913 um ateliê de fotografia em Munique. Como Hitler, ele era um
artista frustrado, que tinha sido proibido pelo pai de estudar artes plásticas.
Quando os dois se conheceram, em 1923, começou uma longa amizade, que só foi terminar
com a morte do ditador, em 1945.
Ódio racial
Hoffmann não era apenas um fotógrafo. Ele encenava as
imagens que fotografava, tendo ajudado o futuro ditador a se tornar um fenômeno
capaz de atrair as massas, criando com as suas fotos o mesmo efeito atingido
mais tarde com os documentários de Leni Riefenstahl sobre os congressos do
partido nazista.
Já em 1923, no mesmo ano quando conheceu Hoffmann, Hitler
ensaiou o seu primeiro putsch (golpe), em Munique. Acabou preso até dezembro de
1924. A estadia na prisão apenas ajudou a impulsionar seus planos. Quando foi
libertado, tinha um manuscrito pronto, o livro “Minha luta”, que foi publicado
em julho de 1925.
– O livro era o seu programa, mas o culto à personalidade de
Hitler era ainda mais importante para os seus adeptos – lembra o historiador
Hajo Funke, da Universidade Livre de Berlim, autor de “Paranoia e política”.
Hoffmann teve, como alguns outros, um papel importante na
formação da imagem carismática de Hitler, que nessa época não tinha nem
passaporte alemão e ainda falava com sotaque austríaco. Depois de ter vivido
como artista desempregado, vagabundo e ter até pedido esmola para sobreviver, o
futuro ditador participou como voluntário do exército da Baviera na Primeira
Guerra Mundial, criou em pouco tempo, do nada, o movimento nazista e menos de
20 anos depois conseguiu chegar ao poder, dando início à maior tragédia da
Europa no século XX.
Na Alemanha caótica da “República de Weimar” (a república
foi fundada em Weimar, estado da Turíngia, porque Berlim estava dominada pelo
caos causado pelos confrontos de rua entre extrema direita e extrema esquerda),
sem ordem política e com seis milhões de desempregados, Hitler era visto como
uma espécie de “messias” que prometia restabelecimento da ordem e prosperidade
econômica.
– As encenações da sua imagem feitas pelo fotógrafo Heinrich
Hoffmann e, depois, pela cineasta Leni Riefenstahl, ajudaram no fortalecimento
do entusiasmo dos alemães pelo falso messias – afirma Funke.
Muitos ajudaram na construção da sua imagem, na
radicalização ideológica e também no financiamento do Partido Nacional
Socialista dos Trabalhadores Alemães. Entre os financiadores, havia nomes
famosos, como Fritz Thyssen (da firma Thyssen), Edwin Bechstein, proprietário
da fábrica de pianos Bechstein, bem como Siegfried e Winifred Wagner, o filho
do compositor Richard Wagner e sua esposa.
O futuro Führer recebia ajuda também do exterior. Depois da
interferência do casal Wagner, o americano Henry Ford doou grande quantia ao
movimento, como era chamado o nazismo, por concordar com algumas ideias
antissemitas.
Da mesma forma que Hoffmann foi decisivo para o surgimento
da imagem do político que encenava os seus discursos para as massas, o escritor
Dietrich Eckart, que alimentava o austríaco com ideias e dinheiro, foi um dos
que mais influenciaram na radicalização do ódio racial contra os judeus.
Segundo Funke, Eckart foi o “descobridor” de Hitler por ter
detectado seu “talento de agitador”. A partir desse momento, aos inimigos já
existentes, juntou-se o bolchevismo.
“A nossa luta precisa e vai terminar na vitória”, escreveu
Hitler no dia 10 de abril de 1924. Menos de nove anos depois, ele chegou ao
poder, no dia 30 de janeiro de 1933.
Heinrich Hoffmann ficou rico depois de 1933, como
responsável pela comissão de “reuso” das obras de arte confiscadas dos judeus.
Hitler era muito grato ao amigo, também por ter sido por seu intermédio que
conheceu Eva Braun, em 1929 – ela era aprendiz na oficina de fotografia de
Hoffmann, em Munique.
Depois da guerra, Heinrich Hoffmann (assim como Leni Riefenstahl) teve sucesso em “vender” a tese de que “não sabia de nada” sobre os crimes cometidos pelo regime. Ele foi condenado a menos de cinco anos de prisão e já em 1950 voltou a trabalhar como fotógrafo, apesar da conclusão do juiz Josef Purzer, em janeiro de 1947:
“As suas obras são brilhantes, e ajudaram na psicose que
surgiu no povo alemão através da glorificação de Hitler por meio das fotos, que
apresentavam tudo o que era grande e bonito. A realidade era inteiramente
diferente. E o seu trabalho teve um papel essencial na ação de enganar o povo.”
Ele morreu uma década depois, aos 72 anos de idade.
Fonte: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/feitos-desfeitas/_ed758_as_fotos_proibidas_de_hitler/
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