Este relato consta Livro - Recordando os bravos – Eu convivi
com eles -Campanha da Itália -de autoria do Marechal Floriano de Lima Brayner.
Que conta suas recordações quando Coronel como Chefe do
Estado Maior da F.E.B. como o título já enforma este é um relato do dia do
embarque do 1º Escalão da F.E.B.
O sigilo do embarque era algo imprescindível para o sucesso
da operação de transporte de F.E.B. pois como bem sabemos o Atlântico estava
tomado por cardumes de U-bolts, estes prontos para mandar ao fundo do oceano
qualquer embarcação que julgassem inimiga.
Espero que gostem como eu gostei e por isso estou
transcrevendo abaixo na integra o texto como escrito pelo autor, a todos uma
boa leitura e;
F.E.B. BRASIL!!!
A cobra vai fumar!!!
Passamos agora a transcrição feita com as próprias palavras
do na época Coronel Brayner - Chefe do Estado Maior da F.E.B.
“Já se passavam oito dias da reunião do gabinete Secreto, e
eu novamente interpelei Bina Machado e ele me respondeu de acordo com nosso
código, bem no estilo dos pagos:
-Cuida-te porque há
Mouros na costa.
Avisei o General. Ele partiu logo para o Gabinete
Ministerial, num primeiro encontro com nosso leal amigo Bina Machado.
Em consequência, Mascarenhas determina o desencadeamento da
operação “Embarque” que importava em lançar o Grupamento nº 1 (1.º R.I.) para
Santa Cruz, onde estacionaria como se estivesse embarcando; nº 11 (11.º R.I.)
para o Recreio dos Bandeirantes como mesmo objetivo: finalmente, o nº6
(6.ºR.I.) para o embarque real.
Vinte e quatro horas depois entrava no porto o poderoso
transporte “General Mann” super-artilhado, com alojamento para 6.000 homens.
Atracou no armazém 2 do Cais do Porto e abriu os portões de
embarque, e às 21horas dessa jornada de 30 de julho começou a engolir os 6.000
homens do 1.º Escalão de Transporte. Mascarenhas, cujo a bagagem já estava
embarcada, presidiu todos os detalhes da operação, com serenidade e costumeira
energia. Como Comandante da Área de Embarque, eu o assessorava em todos
momentos.
Presentes e extremamente atentos, dois Generais americanos,
vindos especialmente para presenciar o embarque, eram assessorados pelo General
Kröner, Adido Militar dos Estados Unidos. Em dado momento, algo inesperado
aconteceu: uma patrulha de Fuzileiros Navais que fazia a segurança da Área de
Embarque, encontrou um soldado expedicionário escondido.
Leve-o imediatamente á presença do Grupo de Autoridades
presentes, com grande desgosto para o nosso Comandante que não teve
meias-palavras para invectivar aquele que considerou o 1º desertor da F.E.B.
O homem ouviu a torre de insultos de cabeça baixa, sem
esboçar a mínima reação.
A mesma patrulha o levou até a escotilha de embarque,
entregando-o ao oficial que fiscalizava a entrada dos homens. Algum tempo
passado, uma escolta de bordo vem à presença das autoridades, com o pretenso
desertor, declarando, de Ordem do Ten-Cel.
Motta que dirigia a operação dentro do navio, que o homem não pertencia
a nenhuma das unidades embarcadas!
Surpresa geral.
Emoção.
A informação dizia que o homem não era tipicamente um
desertor. Ao contrário: ele estava ali para tentar embarcar como clandestino,
deves que a sua unidade – Um Grupo de Artilharia – estava na Vila Militar e só
embarcaria com o 2º Escalão.
Porque este interesse em seguir com o 1º Escalão?
Simplesmente por motivo sentimental. Um companheiro e
conterrâneo da cidade mineira, de família seguia no 1º Escalão. Ao partirem de
sua cidade para se incorporarem à F.E.B. trocaram juramentos perante seus pais,
que selariam sempre um pelo outro. Naquele momento quando as circunstâncias
iriam os separar – um segui no 1º Escalão enquanto a unidade do outro
permaneceria no Rio, o peso do juramento prevaleceu, e ele aproveitaria a
confusão dos últimos momentos e e entraria no navio, para esconder-se e só
aparecer quando estivesse ao largo e aceitassem o fato consumado, de um
clandestino que não seria devolvido.
O Gen. Mascarenhas que tivera expressões candente ao
classifica-lo com 1º desertor da F.E.B. só faltou pedir-lhe desculpas, censurando-o
toda via por ter permanecido silencioso quando verdadeiramente insultado e
ofendido nos seus brios.
Afinal de contas o homem era mais herói, nada de covarde.
A mim o Gen. Mascarenhas confidenciou:
- Quando o homem veio a minha presença, eu me encontrava com
todas as atenções voltadas para o embarque, que estava tendo um brilhante
êxito, na opinião dos americanos presentes. Minha indignação não teve limites.
Com dificuldade evitei a revolta do Zenóbio, ao meu lado. Como o homem suportou
com serenidade os doestos que lhe eram dirigidos, sem esboçar qualquer reação,
eu lhe fiz sentir:
- Como castigo, você vai ser o único a embarcar escoltados,
para ser humilhado perante seus companheiros.
- Afinal de contas não se configura o caso de deserção.
Era, apenas uma falta grave.
O melhor foi, quando o homem voltou escoltado por não poder
embarcar, o ambiente foi um pouco de opereta. Os americanos, que não haviam
dado maior importância ao episódio adoraram o desfecho. Para o gen. Kröner, o
assunto se incorporaria ao anedotário da guerra. Lá nos Estados Unidos o
faltoso inteligente e imaginativo seria até premiado. Os americanos, pudessem,
teriam pedido para que o falso-faltoso seguisse como excedente. Mas, o Gen.
Mascarenhas antes de qualquer interferência sentimental, deu ordem para que o
homem fosse reconduzido a sua unidade na Vila Militar. E o Gen. Cordeiro,
Comandante da Artilharia, tomou-o sob sua proteção, e, para conforta-lo no seu
gesto infantil, prometeu fazê-lo seguir no próximo embarque.”
Ao centro Gen. Mascarenhas a esquerda Gen. Zenóbio e a direita Cel Brayner,
conferência sobre as operações do destacamento de Zenóbio
em 18 de setembro de 1944.
antes de partir para a Itália.
Um fraternal abraço a todos.
Rudi De Antoni.:
Fonte:
Livro - Recordando os bravos – Eu convivi com eles -Campanha
da Itália -Autor, Marechal Floriano de Lima Brayner.